November 24, 2024

RTTS, RTTI, RTTC e você: tudo a ver – Parte 2

E aí, como vai aquele desenvolvimento bizarro em que você precisa identificar qual o tipo de uma determinada variável em tempo de execução? Hoje vamos explorar alguns exemplos do RTTS para fazer esse trabalho sujo.

Lembrando que na Parte 1 você entende a teoria por trás do RTTS e aprende um pouco sobre casting e o operador “=?”. Esta é a Parte 2 e, na Parte 3, iremos analisar como criar variáveis em tempo de execução.

Pegue a sua lupa de Sherlock Homes e vem comigo identificar essas variáveis safadas.

Analisando o tipo de uma váriável

Muita gente conhece o bom e velho DESCRIBE para tentar descobrir alguma coisa sobre as variáveis em tempo de execução. Nós mesmo já falamos um pouco do DESCRIBE TABLE por aqui. Porém, se você ler o HELP do describe, vai ver que a recomendação é usar o RTTS ao invés do DESCRIBE e variações, por conta da flexibilidade que as classes do RTTS proporcionam.

Como ignorar essas recomendação é algo abapossauriano, vamos fuçar um pouco no funcionamento do RTTS para analisar uma variável. No exemplo abaixo a variável “material” está referenciada ao DDIC. Experimente trocar de “mara-matnr” para outros tipos para ver diferentes resultados:

DATA: material  TYPE mara-matnr,
      texto     TYPE string.

DATA: relative_name TYPE string.

DATA: o_typedescr TYPE REF TO cl_abap_typedescr.

DATA: x031l TYPE TABLE OF x031l,
      x030l TYPE x030l.

* Criando o objeto para análise. Este objeto fará referência ao
* tipo da variável "material".
o_typedescr = cl_abap_typedescr=>describe_by_data( material ).

* Nome absoluto contém o nome + identificador. No caso, será \TYPE=MATNR
* que indica que este objeto é referente a um TYPE MATNR(elemento de dados).
* Experimente trocar o tipo do campo para PSTAT, e você verá que o TYPE muda
* para o elemento de dados, que é o PSTAT_D.
WRITE / o_typedescr->absolute_name.

* Nome utilizado para referência no programa.
relative_name = o_typedescr->get_relative_name( ).
WRITE / relative_name.

* Métodos que só funcionam se o tipo referenciado veio do DDIC.
* Se você trocar de "material" para "texto" na hora de chamar o
* método describe_by_data, irá tomar um DUMP na cabeça.
x031l[] = o_typedescr->get_ddic_object( ).
x030l   = o_typedescr->get_ddic_header( ).

* Tipo da Variável, neste caso C de CHAR
WRITE: / o_typedescr->type_kind.

* Tamanho da variável, para o elemento de dados MATNR - 18
WRITE: / o_typedescr->length.

Neste caso utilizamos o método describe_by_data, mas você pode utilizar outros métodos para buscar a instância, como o describe_by_name. No caso do e describe_by_name, você teria que passar o nome do tipo direto – “MATNR” ( pelo describe_by_data voccê passa a variável).

Para quem não está acostumado com OO, este exemplo pode levar a uma pergunta importante…

Ué, mas onde foi parar o CREATE OBJECT?

Quando você precisa utilizar um objeto, nem sempre isso quer dizer que você precisará criá-lo. É extremamente comum no mundo do ABAP Objects delegar a atividade de criação para algum método de alguma classe. Tipo aqueles chefes que só delegam, delegam, delegam e não fazem nada.

Sério agora: no caso do exemplo anterior, quem irá executar o “CREATE OBJECT” é o método “cl_abap_typedescr=>describe_by_data“. Esse método é um método estático, ou seja, não precisa ser acessado a partir de uma instância. Se você não entendeu nada, imagine que chamar um método estático público de uma classe da SE24, é igual a chamar uma função, no sentido de ser um pedaço de código que está em algum lugar e que pode ser acessado por qualquer programa.

Pelo lado do design do RTTS, imagine que você está fazendo a seguinte requisição:Hey RTTS, me devolva a instância certa, preenchida com todos os dados dessa variável que estou te enviando. Saber disso, por hora, é o suficiente 🙂 .

Para os curiosos de plantão, existe uma construção clássica (design pattern) em OO que se chama Factory. Ela abusa de métodos estáticos para que a classe crie a instância da melhor maneira possível. Dê uma olhada neste link para saber como funciona, com exemplos em ABAP. Diz a lenda que eu vou fazer um post disso algum dia, mas é só uma lenda urbana e pode ser mentira, tipo bicho papão, saci pererê, geisy arruda…

Descobrindo os campos de uma estrutura

Agora que você entendeu como instanciar objetos do RTTS, e como fazer análises em uma variável simples, está na hora de utilizar a maravilinda análise de estruturas.

Manja quando você tem aquela estrutura maldita e precisa descobrir se ela tem o campo que você precisa, na posição que você precisa, do tipo que você precisa, do elemento de dados que você precisa, aaaaaaaAAaAaAAa? Pois seus problemas acabaram! 🙄 Descobrir os campos de uma estrutura, sua posição e outras parafernálias nunca foi tão fácil!

DATA: estrutura TYPE mara.

DATA: componentes TYPE cl_abap_structdescr=>component_table.

DATA: structdescr   TYPE REF TO cl_abap_structdescr,
      campodescr    TYPE REF TO cl_abap_datadescr.

FIELD-SYMBOLS <component> LIKE LINE OF cl_abap_structdescr=>components.

structdescr ?= cl_abap_structdescr=>describe_by_data( estrutura ).

* Aqui você recebe a lista de todos os componentes da estrutura, com outros
* objetos já referenciados de acordo com o tipo do campo. (abra no debug para entender)
* Com isso você pode saber O QUE VOCÊ QUISER sobre QUALQUER CAMPO da estrutura.
* Não é feitiçaria, é SAPLoLogia (só pra rimar)
componentes = structdescr->get_components( ).

* Vamos analisar um campo específico da estrutura:
campodescr = structdescr->get_component_type( 'MATNR' ). "Troque o campo para experimentar!"
WRITE: /01 'MATNR',
       10 'É do tipo',
       20 campodescr->type_kind.

*Ah, mas tudo que eu quero é um lista dos campos e já era!
LOOP AT structdescr->components ASSIGNING  <component>.
*   Tá, toma aí
    WRITE: /01 <component>-name,
            20 <component>-decimals,
            30 <component>-length,
            40 <component>-type_kind,
            50 sy-tabix. "posição na estrutura
ENDLOOP.

Viu ali o operador =? entrando em cena? Isso acontece porque o método “describe_by_data” está declarado na classe pai CL_ABAP_TYPEDESCR, e esse método retorna um parâmetro do tipo TYPEDESCR. Porém, como programadores espertos que somos, sabemos que AQUELE “describe_by_data” da classe CL_ABAP_STRUCTDESCR vai retornar uma instância da classe CL_ABAP_STRUCTDESCR. É aí que o =? entra em jogo, e dizemos para o verificador de sintaxe não encher o saco porque a gente sabe o que está fazendo.

AI MEU DEUS MAURICIO, NÃO ENTENDI NADA DESSE ÚLTIMO PARÁGRAFO!!!1!!1!!1!!

Leia a Parte 1. Se mesmo assim não entendeu, pergunta pra gente aí nos comentários 🙂 .

Com a classe CL_ABAP_STRUCTDESCR você descobre os campos da estrutura, mas para analisar um campo específico, vai ter que usar a classe para o tipo específico daquele campo. Debugue o exemplo que você vai me entender!

Bom, espero que agora a hierarquia de classes esteja fazendo um pouco mais de sentido para você 😛

Análises em Tabelas

E, por fim, vamos analisar uma tabela interna. Acho que você já sacou que a classe CL_ABAP_TABLEDESCR vai fazer uma análise geral na tabela, mas você vai precisar utilizar a hierarquia de classes para analisar o campos (CL_ABAP_DATADESCR e derivados) de uma linha específica (CL_ABAP_STRUCTDESCR).

DATA: tabela TYPE TABLE OF mara.

DATA: tabledescr  TYPE REF TO cl_abap_tabledescr,
      structdescr TYPE REF TO cl_abap_structdescr.

FIELD-SYMBOLS <key> LIKE LINE OF tabledescr->key.

tabledescr ?= cl_abap_tabledescr=>describe_by_data( tabela ).

* Vamos fuçar na linha da tabela
structdescr ?= tabledescr->get_table_line_type( ).
* Note que o programa faz um downcast do tipo que GET_TABLE_LINE_TYPE retorna para o
* objeto STRUCTDESCR.
* E aqui você pode usar o exemplo de estruturas para fuçar no objeto STRUCTDESCR.
* [insira o código do exemplo anterior aqui]

* Campos da tabela
LOOP AT tabledescr->key ASSIGNING <key> .
  WRITE / sy-tabix.    "Posição do Campo
  WRITE 20 <key>-name. "Números da Mega-Sena (quem sabe assim algúem testa este exemplo!)
ENDLOOP.

* Tem mais um monte de atributos que descrevem outras coisas da tabela
* interna. Explore!

É meu, tô falando… esse tal RTTS é pior que paparazzi na praia de copacabana.

Guarde sua lupa porque por hoje chega pessoal. Espero que os exemplos estejam claros o suficiente para que você possa fazer seus próprios experimentos com as classes do RTTS. Não adianta ficar lendo, tem que executar, testar e estudar!

Abraços a todos aqueles que usam a boina do Sherlock Holmes.

Mauricio Cruz

Pasteleiro há 15+ anos e criou o ABAPZombie junto com o Mauro em 2010. Gosta de filosofar sobre fundamentos básicos da programação e assuntos polêmicos. Não trabalha mais com SAP, mas ainda escreve sobre programação e faz vídeos de vez em quando.

View all posts by Mauricio Cruz →

6 thoughts on “RTTS, RTTI, RTTC e você: tudo a ver – Parte 2

  1. Esses dias eu estava com preguiça de procurar no google o nome dessas classes quando apareceu esse tweet no meu feed 😉 foi uma mão na roda!

    Eu quera analisar uns dados e como eu sou preguiçoso demais pra aprender as funcionalidades todas do excel… fiz um programa que eu copiava uma planilha e ele gerava um alv pra mim igualzinho 😀

      1. É mano, ABAP Zombie superando o Google!

        Falando em algo novo… Sabe se existe algum repositório ou uma maneira de saber a partir de qual versão uma classe/função está disponível no SAP? No momento a maneira que eu tenho de descobrir isso é logando num ambiente 4.7 e procurando!

  2. Fala Abaper’s!!

    seguinte, utilizei as dicas aqui e tenho outra relacionada:
    * Métodos que só funcionam se o tipo referenciado veio do DDIC.
    * Se você trocar de “material” para “texto” na hora de chamar o
    * método describe_by_data, irá tomar um DUMP na cabeça.

    Para evitar o Dump é só verificar se campo verificado vem do ddic, da seguinte forma:

    “Recebe o nome do dominio (somente para campos do dicionário)
    o_typedescr = cl_abap_typedescr=>describe_by_data( material ).
    “Verifica se tipo é do dicionário
    CHECK o_typedescr->is_ddic_type( ) EQ abap_true.

    é isso ai, espero ter ajudado!

    Abraços!

    1. Desconsiderem essa parte:
      ““Recebe o nome do dominio (somente para campos do dicionário)” heheheheeh

      abraços

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *